O Estado de S. Paulo
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Quarta-feira, 13 de junho de 2001

O Alasca está derretendo?
Temperatura aumentou 5 vezes mais no
extremo norte do que no resto do planeta

ED HUNT
The Christian Science Monitor

Pesquisas realizadas nos últimos quatro anos confirmam que centenas de geleiras do Alasca estão derretendo rapidamente. A Geleira Columbia está diminuindo na proporção de cerca de 800 metros por ano, e já teve redução de cerca de 13 mil metros nos últimos 16 anos. A camada de permafrost - solo que permanece congelado há milhares de anos - não está mais congelada. À medida que a camada subterrânea de gelo vai derretendo, as estradas racham e se rompem, ou retorcem-se, perdendo a antiga forma; edifícios e postes telefônicos inclinam-se, como se tivessem sido abalados por um terremoto.

Cientistas especializados em assuntos relativos à atmosfera previram que o aquecimento global mostraria sua face, em breve, nas regiões do norte. O que estão descobrindo agora só confirma os seus receios. Enquanto a temperatura global aumentou 0,55º C nos últimos 100 anos, no Alasca, Sibéria e Noroeste do Canadá o aumento foi de 2,75º C em 30 anos.

Enquanto em Anchorage quase não houve neve neste inverno, em outras partes do Alasca houve muita. Mais neve poderá cair no inverno, à medida que o clima for se aquecendo, porque o ar mais quente contém mais umidade - o que significa mais chuva e mais neve. Entretanto, nos últimos anos os verões foram mais longos e mais secos, derretendo toda a neve acumulada nas geleiras durante o inverno - e mais do que isso.

Mais ao norte, em locais como Sachs Harbour, as mudanças são ainda mais evidentes. O Oeste do Ártico está se aquecendo na proporção aproximada de três a cinco vezes a média global. As temperaturas são tão mais altas que chegam a aparecer andorinhas lá, e, pela primeira vez, encontram-se salmões no mar. Agora os mosquitos sobrevivem no deserto polar. O gelo do Mar Ártico está 40% mais fino, segundo estimativas, e abrange uma área 14% menor.

Alguma coisa está acontecendo.

Sibéria - Entretanto, há mais coisas acontecendo do que simplesmente o derretimento do gelo milenar. A Taiga, floresta de coníferas muito antiga da Sibéria, está morrendo. O estresse ambiental a enfraqueceu: nevascas pesadas que cairam no inverno danificaram as árvores.

Verões quentes e secos prejudicaram o seu crescimento, e os besouros que se multiplicam com o calor ajudam a destruir a vegetação.

Algo está acontecendo. Os climatologistas dizem que alguma coisa aconteceu por volta de 1976. A partir de então, as geleiras passaram a derreter mais rapidamente, o fenômeno El Niño ocorreu com maior freqüência e o Alasca, o Noroeste do Canadá e a Sibéria tornaram-se 2,75º C mais quentes. São mudanças naturais ou mudanças causadas pelo homem?

Análises de material colhido no fundo de lagos e gelo do Ártico revelam que, antes do surgimento do homem, o clima do planeta variava muito, com as médias de temperatura globais aumentando e diminuindo no prazo de poucos anos. A espécie humana surgiu em um período de relativa calma e estabilidade, há 11.000 anos.

A civilização humana poderia não sobreviver a um novo período de instabilidade, qualquer que seja a causa. Entretanto, essa capacidade natural de flutuação do clima da Terra não nos tira das dificuldades, como esperam alguns. Lançando gases na atmosfera em níveis muito superiores aos que deveriam ser, estamos mexendo com um sistema capaz de ter variações possivelmente desastrosas.

Essa foi a mensagem enviada pela Academia Nacional de Ciência à administração George W. Bush, na semana passada. Os cientistas alertaram que, embora seja impossível determinar que proporção do aquecimento global pode ser atribuída à influência humana, não há dúvida de que isso está acontecendo. A administração de Bush mudou de tom.

Podemos negar que criamos o aquecimento global sozinhos. Podemos dizer que esta é uma flutuação natural do clima da Terra. O que não podemos negar é que estamos em um período de significativa mudança de clima. Há três anos, o redator de artigos cientificos, William K. Stevens, chamou o que está acontecendo no Alasca de "holocausto ecológico". Como sucedeu durante a 2.ª Guerra Mundial, as grandes nações estão se unindo para travar uma batalha à qual os EUA ainda não aderiram.


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